Letícia?
Dia 30 de outubro de 2003. Chovia "a potes" e a trovoada sacudia o prédio que a minha mãe, mesmo perto das 40 semanas de gravidez, teimava em limpar de cima a baixo. Tinha de ser: o parto estava marcado para o dia seguinte e as coisas naquela época não tinham "auto-limpeza". Venho de um lar onde sempre me foi dito para não ter medos, para me fazer ouvir e nunca desistir de seja o que for. Cresci num bairro com dezenas de crianças da minha idade e, todos os dias mal o sol se começava a pôr, corríamos, brincávamos às escondidas e fazíamos torneios de cartas. Ali, com eles, tive tempo e oportunidade para tudo, inclusive para cair, esfolar os joelhos e partir um pé e uma perna.
Hoje, à distância de quase vinte e um anos, tudo isto parece dizer muito sobre mim. Tal como a minha mãe, sou teimosa e, como o meu pai, quando ponho alguma coisa na cabeça, tenho de a levar até ao fim, custe o que custar. Foram eles (e o que me ensinaram ao longo da vida) que me trouxeram até ao jornalismo, alimentando - mesmo que sem intenção - este meu gosto por informar e estar informada.
Numa época em que poucos acreditam na sua sobrevivência e muitos associam o jornalismo aos piores exemplos, eu resisto. Com paixão.
Lá está, mais uma vez, a Letícia e a sua teimosia.